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sábado, 2 de abril de 2011


APOIO HUMANITÁRIO DO TJAM.

Carta Aberta Contra o Infanticídio Indígena no Brasil

Nós, indígenas do Mato Grosso e do Brasil, pedimos a sua atenção para os casos de infanticídio que ocorrem impunemente nas aldeias indígenas do Brasil. O infanticídio não é um fato novo. Infelizmente sempre esteve presente na história das culturas indígenas. Entretanto, este assunto tem ganhado visibilidade na mídia com a divulgação da história da menina Hakani da etnia Suruahá, que sobreviveu ao infanticídio após o suicídio dos pais e irmãos.
Estamos vivendo um momento de mudanças - de profundas mudanças em nossa cultura e estilo de viver. Hoje vivemos um novo tempo e a realidade dentro das comunidades indígenas e outra. Já não vivemos confinados nas nossas aldeias, condenados ao esquecimento e a ignorância. O mundo já esta dentro das aldeias através da TV e da INTERNET e da escola. O acesso à informação têm colocado o indígena em sintonia com os acontecimentos globais.
Tudo isso tem alterado nossa visão de mundo. Hoje já não somos objetos de estudos, mas sujeitos, protagonistas de nossa própria historia, adquirindo novos saberes e conhecimentos que valorizam a vida e a nossa cultura.
Somos índios, somos cidadãos! Vivendo na cidade ou na aldeia, não abandonamos as riquezas de nossas culturas, mas julgamos que somos capazes de distinguir o que é bom é o que é danoso à vida e a cultura indígena. Assumimos a responsabilidade de nosso destino e de fazer escolhas que contribuem para nosso crescimento. Recusamos-nos a ser meros fantoches nas mãos das organizações científicas e de estudo. Chega de sermos manipulados por organizações governamentais e não-governamentais!
Portanto manifestamos nosso repúdio a pratica do infanticídio e a maneira irresponsável com que essa questão vem sendo tratada pelos Órgãos Governamentais. Não aceitamos o argumento de antropólogos baseados no relativismo cultural. De acordo com a própria Constituição brasileira de 1988 que em seu artigo 227 determina:
“É dever da família, da sociedade e do Estado, assegurar à Criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida , à saúde, à alimentação, à educação ao lazer à profissionalização, à cultura e à dignidade, ao respeito, à liberdade é à convivência familiar e comunitária, além de colocá-las a salvo de toda forma de negligência, discrimininação, exploração, violência, crueldade e opressão!”
E em nome deste preceito constitucional é que nos dirigimos à nação brasileira, em especial ao Presidente Lula e à esposa D. Marisa, assim como aos congressistas e aos governantes estaduais municipais, para manifestar nossa indignação com a falta de respeito à vida em especial das crianças vítimas do infanticídio.
O recente caso da menina Isabela alcançou tal repercussão na mídia, que de repente nos vimos vivendo a dor e a angústia de sua família. Parecia que Isabela era alguém de nossa própria família. Toda a nação brasileira se comoveu e se encheu de indignação com tamanha violência e passou a acompanhar, a exigir justiça e punição aos suspeitos. A justiça tem feito seu papel e a sociedade está em alerta contra a violência infantil.
Mas nós perguntamos - será que a vida da Isabela tem mais valor do que a daquelas crianças indígenas que são cruelmente enterradas vivas, abandonadas no mato, ou enforcadas por causa de falsos temores e da falta de informação dos pais e da comunidade? NÃO!
Não aceitamos o infanticídio como prática cultural justificável. Não concordamos com a opinião equivocada de antropólogos que têm a pretensão de justificar estes atos e assim decidir pelos povos indígenas, colocando em risco o futuro de etnias inteiras. O direito à vida é um direito fundamental de qualquer ser humano na face da terra, independentemente de sua etnia.
Sr. Presidente, e D. Marisa, Senhores, senhores congressistas e governantes estaduais e municipais, cidadãos e cidadãs brasileiras, os direitos humanos estão sendo violados no Brasil!! Quantos milhares de crianças já foram enterradas, enforcadas ou afogadas quantas mais terão que passar por isso? Nosso movimento espera que a lei maior de nosso país seja respeitada isto é independentemente de etnias, cor, cultura, raça, todas as crianças gozem do direito à vida.

Por isso, através desta carta aberta, pedimos:

  • que a Lei Muwaji seja aprovada e regulamentada;
  • ao presidente Lula e a sua esposa que pessoalmente interfiram nesse processo;
  • que os órgãos competentes não mais se omitam em prestar socorro as mães e as crianças em risco de sofrer infanticídio
Nós, abaixo assinados, concordamos com os termos desta carta aberta e junto com seus autores, pedimos aos governantes do País em todas as instâncias, providencias no combate e na erradicação do infanticídio para que assim o sangue inocente não seja mais derramado em solo indígena.
Mato Grosso, junho de 2008.
Movimento contra o infanticídio indígena
O redator, Edson Bakairi, é lider indígena em Mato Grosso, professor licenciado em historia com especialização em Antropologia pela UNEMT, presidente da OPRIMT ( Organização de professores Indígenas de Mato Grosso) por 3 anos e é sobrevivente de tentativa de infanticídio, abandonado para morrer na mata, foi resgatado e preservado com vida por suas irmãs.
Vejam o video no site www.parlamentworld.org em World TV  no décimo quinto video.
Vamos nos unir contra esse "crime hediondo"
FONTE: CONPLEI.

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